24 agosto 2010

Shhh...

Vão-se calando os soluços
Abafando a minha dor
Que por ti acalento
Meu doce e sonhado Amor

Sono

Que rio é este
Cuja nascente desconheço
E pelo qual corre o meu sangue?
Que rio é este?
Que arrasta a minha vida toda?
É inútil dormir
O sonho corre e o rio me arrebata
Vou-me com ele...

23 agosto 2010

Fel

Rasga a alma
Desprende o coração
Que resta de nós
Então?
A carne
Devassada do amor
Que fizemos
Em segredo
Sob a pele
São pingos de sal
O que bebo
Sinto o fel

21 agosto 2010

Escrava

Desde que acordo
Até que me obrigo a deitar
Sou escrava das letras
Deste meu pensar

Que sinto com a cabeça
Que é isto, afinal?
Algo que me entristeça
Para viver o real

18 agosto 2010

A D. Juliana de Meneses - Duquesa de Caminha

Miranda - Sir John William Waterhouse















Ouço, distingo
Teu nome gritado
Nas ondas do mar
Desespero da perda inevitável
Que ainda me dói
Mas para sempre terei
Esta escarpa
E este segredo
Sussurrado vezes sem conta
Dentro de mim
A avistar o nosso mar

Ao António C.

Alvo papel que arde
Fogo da paixão demente
Não fujas magoado
Que só a ausência sente.

Não corras pela segurança
Porque a felicidade é uma busca
Nunca a encontrarás plena
Enquanto não te deres sem culpa.

Um Fio

Ando tensa
Um fio
Suspensa
Esticado
Enretesado
Estremeço.
Os teus olhos
Ao acaso
Em mim vieram poisar
Logo me desprendi
Leve
A flutuar
Vim no chão
Repousar.

17 agosto 2010

Pedra em bruto

A pedra em bruto
Por lapidar
Apenas interessa
E tem beleza
A quem conhece
Tu és pedra
Eu (te) conheço
Todo o teu potencial
Mas não a forma
De te polir, lapidar
Se calhar é melhor
Deixar andar
Seguir desinteressadamente
Até, finalmente,
Do teu fascínio
Me libertar...

Catorzinha

Foto de Rezie Ilhamsyah




















Tuas pernas magras
Experientes no abrir e fechar
A cada cliente que chega
Sem Te ver
Sem Te conhecer
Esse quarto
De tantos amantes de 15 minutos
Demorados
Guardados na penumbra
Sem noite nem dia
A vida corre
E é sangue na alcova
Já te esqueceste
Do que é o céu
Esta dor que me dói no peito
Não é outra senão tua
Marcas de sonhos por realizar
Fome do mundo que te foge
Sombras!
Minha criança poluída
Deixa-me amar-te na Vida
E nos meus braços
Deixar-te adormecer...

13 agosto 2010

Sem Título

Existem mil caminhos dentro de nós.
Todos quero percorrer
Contigo a meu lado
Juntos até morrer


Incendeias-me o corpo
Quando me olhas profundamente
Reescrevo-te para ler-te
Tão somente na minha mente.

Beijo

Tenho uma ferida no peito
Antes fosse no dedo
Mindinho
Da tua mão
Para poder beijá-lo
Com carinho
Aplicar suave sucção.

12 agosto 2010

Eu...

Linhas dum requinte escultural
Dobres d'agonias
Roxo macerado de martírios
Rezo, grito, choro
Ninguém ouve
Ninguém vê
Ninguém sabe quem sou
Onde estou
...

Depois do Amor

Delicadas melodias
Cujo instrumento
Se sabe não ser
Trinado de rara ave
Mas sim, tua pura e doce voz
Nesses vagos dias
Dolentes
Em que os corpos
Repousa
Sobre o mar de lençóis
Que são tua pele
Amarrotada e abandonada
Depois do amor.

11 agosto 2010

Escrevo para ti

Escrevo para ti
Que não me podes ouvir nem ler.

Tu, que estás para lá do inexorável horizonte
Onde até as flores tem outro nome, cheiro e cor.

Escrevo-te o Amor
Que em mim ficou quando partiste para não voltar.

Escrevo-te a saudade
Que me dói e corrói o peito aberto - Devoção.

Escrevo-te à chegada
Duma nova meta da Paixão.

Na esperança de que um dia
Saibas o que fui/ o que é para ti.

Um dia longínquo que não sei se vai chegar...

10 agosto 2010

A vida

A vida é feita de nadas
Palavras sagradas
Que temos de escolher
E escolher é
Dilacerar toda a alma.


Tu que falas
Com todos os poros
A transpirar
A pele das palavras
E espalhas magia
Como suor do firmamento,


Trituras a alma
A escolher
A escolher as palavras
Para preencheres a vida
Duma mão cheia de nadas.

Estou

Estou
Onde tu nem sabes
Onde jamais
Poderás entrar.
Do lado de lá da porta
Do lado de dentro do abismo
Labirinto
Secreto
Que sinto.
Estou
Na margem do texto
Sem qualquer contexto
Onde não poderás entrar...

O acasalamento

Apressa-se
Uma posição
Bebendo sentados
As lágrimas da
Paixão
Suspiram-se palavras
Nuas
Como vento que passa,
Um vôo do pensamento.
Trágica voz rouca
Mãos nas fendas
Do tempo
Ao longe a tremura
O impulso...
Dos sentidos,
O acasalamento.

09 agosto 2010

A luz do teu olhar

Caíste
Do céu uma estrela
Para iluminares
Estes olhos tristes
Que ainda perscrutam na noite
Luz igual
À do teu olhar

Há um olhar

Há um olhar
Onde me perco
Onde naufrago
Vezes sem fim
Para acordar os teus braços
Deixar-te
Passear em mim

Perdi-me

Tumulto do sangue na paixão
Miríades de imagens me possuem
Quando por breves instantes os nossos olhares se cruzam.
Sou teu. Ama-me!
Gritar bem alto o teu nome
Sussurrá-lo no ouvido com a língua quente
A arder na minha boca
Não sei se to disse
Perdi-me
Na tempestade do desejo
Quando nos tocámos enfim...

Nós

Entre mim e ti
Não há obrigação,
Apenas vontade.
Vivemos livres
Plenos e satisfeitos.
Cada um por si,
Cada um em si.
E sempre que queremos
Sabemos que
Estamos ali
Onde o tempo passa
E tudo permanece
Inalterado
À mercê da liberdade
De querer-te.

Abandono

Tantas vozes anoitecidas no teu regaço
Onde o corpo me embalas
Estreito no abraço.
Ouço o bater do coração
 - Um chão

E eis que tudo muda
Um momento, um sopro,
Uma aragem
Na vida do dia a dia
Um ponto de viragem.

Hoje já não te sinto
Apenas calo
E minto
A leveza que ficou em mim.
Do gemido atirado ao espaço
Resta a memória táctil
Do teu abraço
E a pele, fronteira do corpo,
À margem da vida,
Um vestido morto...

08 agosto 2010

Paixão

Lábios atentos murmuram
A palavra inacabada
Cópula
Depois dos dentes
Febril consumação
Monumento
De beijos violentos
A dor da paixão.

Bebi por dentro de ti
Suores da loucura
Na escuridão
Ouve a voz
Que vem de dentro
Do fundo do coração.

Homens no cacimbo

Foices aos ombros
Quais mortes anunciadas
Corpos esqueléticos
Sombrios
Que se movem
Lentamente
O peso da vida inteira
Os grilhões
As palavras não ditas,
Sentidas
Caminham à noite
Homens no cacimbo
...

06 agosto 2010

Noite

Foto de Fernando M. C. Batista


Aqui e ali - Mãos
Afluem translúcidas
Na pele que não conhecem
A soluçar sobre as mais belas.
Há um Inverno cansado em todas elas
E um azul celeste que encerra o suor do firmamento.
Mentem sonhos, prolongam grades - sinal contínuo dum falso muro
Que constroem enferrujado na noite que vai roendo tudo consigo...


Segredos

Guardas numa pequena caixinha
Todos os risos de mulher
Beijos, muitos, apaixonados
Não lembras os meus, sequer...


Tece teu peito
Sonhos delicados
Com mãos de ternura
Os olhos magoados


Esquecidos sobre uma flor
Que a noite suavemente oculta
Como as trevas do teu amor


Onde o teu coração mora
Numa caixinha guardaste
O que a alma em pranto chora


Pandora Box from Thomas Baker

04 agosto 2010

Vazia

Estou vazia
E tão cheia
Outra me sinto
Lado a lado comigo mesma
E não sou eu.


Estou vazia
Abandono-me
E ergo-me
Sou outra e me encontro
Ainda perdida
Mas armada
Que a batalha da vida continua.


E sou outra
Que me desconheço
Mas reconheço
Tudo o que fui
De que me esvaziei
Como se o mundo corresse
E eu permanecesse
Parada a observá-lo
Vazia por dentro
À espera de algo


Art from Luis Royo

Melodia

No silêncio da noite
Vibrando perturbador
Teus dedos
Vacilantes
Na viola do trovador


Tocam melodias sentidas
De pura voz
Um trovão
Gela- me as veias purpúreas
Faz do meu peito chão


Pela calada da noite
Quando o luar é dolente
Eu quero ouvir essa voz
Docemente...Docemente...

 Nota: Última quadra pertence a Florbela Espanca

Súplica

Deita tua linda cabeça em meu colo
Deita e adormece
Que o teu peito descanse
O que a memória não esquece


Deixa-me prender-te
Enlear-te em meus braços leves
Que a tua dor a mim doa
Amor, não me desprezes


Na minha adoração
De louca escrava tua
Quero tomar teus tormentos
Oferecer-te com mimo a lua

Promessa

Agora sim
Agora que somos livres
Avancemos!
Destemidos
Compartilharemos
Alegrias e tristezas.
Sem a obrigação dos dias
Seremos nós mesmos
E seremos sinceros
Não mais fingiremos
E toda a nossa vida será
Um idílio
Enquanto durar

Sinto a tua ausência

Sinto a tua ausência
Como tendo
Atrás de mim
A porta de casa
E toda a edificação
Fechada.
Bem encostada a ela
Olho em frente
E só vejo
Um abismo.
Onde antes se estendia
A calçada
Branca e negra
Alegre
Pululante de vida,
Encontra-se agora
O negrume dum horizonte
Que não descortino.
Sinto-me tombar
Encosto-me mais á porta
Mas desejo saltar
Nesse buraco imenso
Cujo fundo desconheço
Mas que me atrai
Magnéticamente
Ao seu centro.
Sei o que sentes
O que mentes
Sei dos teus medos
Angústias
Saudades
Sei algumas verdades:
Da impossibilidade
De gritar Amor
Mas quero-te
Até ao fim dos meus dias

Aconteceu

Aconteceu no hiato de ser
Surgiu do hiato de ter
E querer ocupar
O lugar que não me pertence.


Aconteceu por te querer
Para te ter
Para poder ser.


Aconteceu e foi renovador.
Morreu uma parte de mim
Nasceu outra que não sei qual...

Era Dita

Era dita em voz alta
Para a todos enganar
Escondendo entre as letras
O desejo de te amar

Era dita com fervor
Qual bendita oração
Não eram mais que palavras
Estranguladas no coração

Não quero que me ames

Não,
Não quero que me ames
Não quero contagiar-me
Do teu desconhecimento de amor.
Não quero amar-te
Nem beijar-te
Só possuir-te
E inventar-te
(no meu sangue)
Só quero esventrar-te
E tornar-te o amor
Que eu sou
Que eu sonho

O Poema

O poema
É tempo...

...
...
É avanço...é recuo.
O poema é vida,
É sangue,
É amor.

...
...
O poema é,
O poema quer ser,
O poema destemido;
Ousa avançar!

O poema esconde-se,
Retrai-se.

...
...
O poema
É tempo
...
Tempo que voltará jamais