29 julho 2010

Tu

Empreendi uma viagem pelo teu corpo
Palmo a palmo senti tua pele
Cada poro que respira
Uma paisagem de lágrimas
Que nunca abadonei.
Os anos tombaram atrás do tempo.
Para reencontrar o itinerário
Apliquei o meu discurso mais culto, inteligente e sedutor.
Mas tu nunca foste meu
E habitas-me
Como as velas
Dum navio antigo, naufragado.

John William Waterhouse


É assim que tudo está bem

É assim que tudo está bem
No mesmo ponto de desassossego
De silêncio
De gritos amordaçados

É assim que tudo está bem
Na distância
No abafo
Tu na tua
Eu na minha

É assim que foges
Que negas,
Me negas
Foi assim que planeaste a dor
E me entregas novamente
À loucura.

Foto de Jorge Beraldo






A arte de amar noutro dia

Foto de Alexander Kharlamov





















Deixa para amanhã
Que amanhã vai ser mais fácil.
Deixa para amanhã
Que hoje tenho medo.

Protelas
Protelas a vida
O amor
O grito
Protelas até o infinito
Aconchegas a dor
Protelas-me a mim.

Eu, que vivo na cabeça duma agulha
Ponderando forças
Dos instantes sofridos
Na intensidade
De cada momento.
Eu, que a ti quero
E sofro
Cada minuto da tua ausência
(é ciência).

Protelas
E sofro
Simplesmente por não ser capaz
De te amar noutro dia.

Desvario

Adormeci
Tu na minha cabeça
Em desvario.
Lembro todas tuas caricias
Malicias
Sinto toda a dor
Da partida antecipada
Vida virada
Avesso encontrado.
Atiro-te meus olhos vazios
Já sem lágrimas
São só dor
Mas tu já não estás
Encontraste um novo amor.

Elisa Hinz




Desejo

Vagarosos silêncios

Onde a vida acontece.

Marcam-me o corpo

As garras do teu olhar

Rasgam-me a pele

Sulcam desejos

Misturam suores

Combustão

Explosão.



As palavras não ditas

São fantasmas

Que teimam em não nos abandonar

Nos caminhos inauditos

Dentro de nós.

Mil caminhos que quero percorrer

Tacteando

O corpo que flameja

Ao olhar profundo


Hart Worx

Saiste de mim

Saiste de mim

Novamente saiste de mim

Arrancado a ferros

Deixaste o peito em ferida

Chagas do meu pecado

Original.

Saiste de mim

Ainda com olhos indecisos

Um esgar na madrugada

De orvalhados desejos.

E fico aqui

Desamparada, desorientada

Olhando as mãos ensanguentadas

De te tirar de mim.

Uma pergunta a pairar no ar:

Porque tem de ser assim?
 
 
Arte digital de José de Almeida

Não Partas

Time de José Ferreira














Convidei-te a olhar-me
Na esperança de que me visses
Não nos cabelos amarrotados
Vermelhos de fogo
Ondulados dos teus lençóis,
Mas a Mim, Inteira, Mulher.
Convidei-te e recusaste
Disseste que isso não era importante.
Não me deixaste entrar
Nesse labirinto
Que por vezes é luz,
Outras negrume sem fim
Angulos rectos
Sem portas nem paredes
Onde te perdes.
Passaram os anos e os dias
Disseste que sofrias
As mãos estendidas,
Vazias
Tão leves e banais.
Pediste-me que levasse o medo
E eu te disse um segredo:
Não partas nunca mais!

28 julho 2010

Fantasmas

Foto de Angélica
















Entro nesse divagar e perco-me
É uma viagem que faço
Cheia de dores, fantasmas e tormentos.
Não me recordo do amor,
Tão só da obcessão
Em manter a escolha,
O compromisso.
Tempos idos
Tantas vezes vividos.
Repetidos na pessoa
Outra dum amigo.
Desvarios.
Revolta.
Shhh!
Sossega, calma!
Já passou!
Segredas-me tu
E beijas-me suavemente.


27 julho 2010

Tu já não moras aqui

Escrevi-te a sangue dos meus dedos
Sobre pedra em penhasco
Para que ninguem pudesse apagar-te
Mas veio o mar e te esbateu
Tantas vezes veio
Que te esqueceu
E tu já não moras aqui.

Quiseste regressar do sonho
Em que perdido este tempo andaste
Sorri,
Não te reconheci
Não és tu, por quem morri.
Que fazes aqui?
É tarde
Regressa que o caminho é longo
E tu já não moras aqui.
Foto de Marquicio Pagola

Crónicas de Pernas com Pernas

Body Heart - Tito Elbling
















O vento, como um dedo
Insinua-se subtilmente coxas acima
Estou bera de molhada
No sol tórrido
Pespontado de inconstantes
Lufadas de ar quente.
Sujeito-me aos teus dedos
Como hábeis artesãos
Que tecem os lençóis dos outros
E dormem
Numa esteira no chão.

Tenho sede
E estou bera de molhada
Sou incapaz de te resistir
Ou negar teu membro erecto
Mesmo sabendo que é
Uma f... nada mais

Monólogo

Pego num pedaço de alma teu. Acarinho-o, aconchego-o, afago-o. Transporto-o sempre junto ao peito e seguro-o gentilmente com as mãos em concha.
De tanto o segurar, canso-me, começo a manipular para entreter o tempo. E sei que magoa, que começa a sangrar.Atiro-o sobre qualquer peça de mobiliário e esqueço-o, já estava a sujar e eu gosto de me apresentar impecável.
Choras? Porquê? Nunca te disse que te amava, apenas tinha carinho por ti, mas não acreditaste e agora queres cobrar-me o que nunca te disse ter para te dar.
Queres a tua alma de volta? Olha...está ali, creio. Está um pouco manchada e seca, mas vais conseguir colocá-la viçosa novamente, basta que não penses mais em mim desse modo.
... ...
Olha, vou desaparecer durante uns tempos...Vai ser bom para ti, para ambos.
Sabes que procuro alguem para mim...

 
Christophe Vermare


















A luta

Estava aqui
Contigo
Sem mim
Todo tu
Meu pensamento
Juro pelo teu Deus
E pelo meu vento
Que não consigo
Discernir
O que tu?
O que eu?
Ambos
Em mim
Em constante luta
Sem sofrimento


Foto de Pedro Nossol




O Mundo nas tuas Mãos

Cabe na palma da tua mão
O meu mundo inteiro
Se me não sustentas
Toda ruo, me desconjunto.
Cabe na palma da tua mão
O meu coração pobre
Gasto e imenso.
Cabe a minha alma
Todo o meu Ser.
Morro na distância
De todas as noites a teu lado.
E volto,
Volto sempre.
Enrosco-me para não sentir
O frio da morte
Do medo
De que as tuas mãos se abram
E me deixem escapar...

Foto retirada do blog agulhas no palheiro

Strip Tease

Foto de Nacho Kamenov




















Com música
E luz suave
(filtrada)
Desabotoa-te lentamente
Vai movendo teu corpo esbelto
Ao som da melodia
Que me arrepia
No estalido eufórico
Das gotas
Do meu gin.
Evoluis
Cada vez mais despida
Jogo de luz na tua nudez
Vitreo reflexo de lua
Minha insensatez.
Música e corpo
Me embalam
Será antes
Embriaguez

A Paisagem mais bela que vi

A paisagem mais bela que já vi
É a que imagino do teu corpo
Cada momento me aflora uma paisagem
Escondida dentro de mim
Cada gesto imaginado
Cada suspiro retido, gemido ou gritado
A paisagem mais bela que vi
Tua imagem reflectida em mim.


Espelho de Junior Aragão

Recordação

Sei que não estás
Teu cheiro apenas
Suave já na minha pele.
Sei do teu toque
Que ainda me marca o corpo
E à lembrança
Me faz delirar.
Sou eu?
És tu?
Esta pele morena e macia
Clama pelas tuas mãos hábeis
Conhecedoras
Do meu sentir.
Suspiro
Espero
Desejo
Quero


Memor!es de Ana Coelho

O dia seguinte

Escuto
O silencio da tua voz.
Cada acorde
Tentando perceber
As batidas do coração
E as palavras
Nos interstícios.
Desfaleces.
Não tens nada
Para me dar.
Hoje é
O dia seguinte


Bárbara de Bernardo Coelho

Momento de Glória

É feitiço
Esse teu olhar
Mestiço
Que cativa
E me joga fora
Embora
De tão despedaçada
Continue na calçada
A esperar por isso



Ser o que sou de Óscar Silva

Saudade

Tua voz rouca sussurrada
Ressoando na minha mente
Loucura de beijos
Ardente
Suave e delicada melancolia
Eco da felicidade
Que fui
E que me ilumina o rosto


Naked Orange de Angela Berlinde

A minha terra

Gente que passa
Alienado o olhar
Tenho em mim o tempo
Do alegre cumprimento,
Do comum saudar.
Ó terra de todos esquecida
Em sonhos recordada, vivida
Como quero a ti voltar
Inda que em cinzas
O meu olhar toldado, vazio
Mas a ti, por ti e para ti voltar.

O MAR

O mar
Meu ombro
Amigo
Onde deposito
Minhas mágoas
Meus sonhos
Minhas vaidades
Na busca
Das tuas verdades
Picado, revolto
Sempre uma alma brava
Face do meu corpo
Desatinado e em brasa
O verso queima
O alvo papel
Toma balanço
Em direcção ao céu
Não resiste
Não resisto
A solidão
Por companhia



Tofinho - Inhambane - Moçambique

Inicio

No inicio não é fácil.
É mais fácil deixar andar... mas...há um apelo indizivel que espia e desperta o narcisismo melhor camuflado que se vê logo inchado quando começa a ver-se reflectido em toda e qualquer matéria que se imprime a fogo nas palavras que escreve.
Escrevo porque sim. Porque gosto, sobretudo de mim e porque escrever é fácil...viver, já é outra coisa - mais dura, real. Cujos efeitos ponderados iludem mais que palavras escritas, marcadas - duro preto sobre alvo papel.
Escrevo porque me doem as palavras aprisionadas na mente e na garganta quando não existe mais nada que possa aplacar tamanha inquietude perante a vida.
Neste iniciar...a passos periclitantes, qual aprendiz de trapezista, conto com os comentários e as criticas de gente interessada, que me espicasse a argúcia do olhar e do sentir porque o isolamento é inimigo do progredir.
Grata a todos