12 outubro 2010

Devagar

Vai-se arrumando aos poucos
O Verão
Em prateleiras limpas
Impecáveis
Os trastes admiram
E ficam ao canto
A espreitar invejosos
Doutros a sorte.
Arruma-se também a vida
Desregrada, desmedida
Para, com calma, dar lugar
A essa rubra Estação
E saudar o Outono
Que se aproxima devagar
Devagar…

Chuva

Mil

partículas

 se levantam quando

doce acaricias o dorso cansado
do meu corpo sedento ficas em mim
um momento e toda sorrio por dentro. Por

vezes és brava - fustigas o meu corpo de mãos

dadas com o vento. Agito-me e solto meu diálogo

 olfactivo que te acalma o espirito e te faz, de novo,

repousar sobre mim para que, com os meus galhos

cansados de existirem desde tempos imemoriais
te murmure ao ouvido: A paz que no bosque

se vive sempre que a chuva

cai

17 setembro 2010

Pensamento II

Uma vida é feita de colagens: Pessoas, Vivências, Pequenos traços de vida que passam descuidados e imprimem o seu carácter - deixam um pouco de si.
Acumulo rasgos e colagens: Locais, Sensações.
Sou um quadro rico de matizes que se assume incompleto, mas magnânime.

Ensina-me


Bouguereau - Psyché et l'Amour






Gosto quando me ensinas
Coisas que finjo esquecer
Para que, de novo,
Com carinho
Me ensines a viver.




15 setembro 2010

Pensamento

Todos, como estátuas, submetidos à vontade do tempo silencioso, somos, quase sempre, protagonistas duma história que deveria permanecer esculpida no tempo.
Mas é preciso que alguém seja capaz de revelar a profundidade dos meandros pessoais onde ela se desenrolou, para depois conhecermos como essa história foi a possivel aventura maior do espirito de cada homem, explicando-se livre, simples, imutavel na sua mutabilidade, conciso, sombrio, contrário, com uma dor de pressentimento ou esperança num destino pessoal cumprido.
Enfim...entrecortada de muitas ou poucas palavras e mais para além do que é dito.

14 setembro 2010

Canção

Sempre o teu cheiro fresco
Nestas noites 
Em que o luar
É laranja/ rubro.
Auroras de cristal
Que ao distante Leste 
Recortam silhuetas
Que sopram melodias
Ao vento matinal.
Corre no céu
Uma poeira fina
Que as fadas
Deixam para trás.
Cheira a chuva
Neste equinocial dia
Que obumbra
Sem doutrina nem teoria
A memória
Do brilhante paraíso prometido
Na luz do teu olhar.
As ravinas deste monte cansado
Já não cantam com saudade
A paisagem dolente
Do segredo ardente
Que trazias ao peito agarrado.


Foto de Eduardo Amorim





Acontece ter avançado

Incompletamente acantonado
O vil rosto no espelho partido
Ser episódico de múltiplas faces
Os versos frenéticos
Exaltadores de todas as utopias
Exalam odores a podre
Que se propagam na alma
Enretesando os tendões da memória.

Acontece ter tido a religião
De cada dia lembrar ao pensamento
Que lembrar-se de ti
NÃO!
E acontece ser mais bonita
Neste vestido de negação
Que é minha pele despida
Meu destino, minha emoção.

Foto de José Lopes

13 setembro 2010

Silêncio

Foto de Mirabilia

O silêncio
Não se pode guardar
Já me doem as entranhas
De tanto o segurar.


É no silêncio que te ouço
As palavras do olhar.


É no silêncio que te amo
E sou mais bela por silenciar.


A palavra é verbo
Fecundo como a mulher
É sangue palpitante
Razão do meu sofrer.

11 setembro 2010

Meu amor querido

Meu amor querido
se soubesses quantas vezes
me enamoro no dia
quantas coisas belas
me prendem a atenção
quantas delas se tornam
o meu acasalar preferido
o meu toque de paixão


Se soubesses que te amo
tanto quanto posso
e que posso amar desmedidamente
um segundo
um dia
um mês
uma qualquer medida
com todo o meu ser...


Se soubesses que tu
és a luz do meu dia
que com suavidade
no inverno irradia
e me trespassa de lucidez...


Meu amor querido
és o fruto proibido
do que me impedes de ser
e dás-me tudo o que sinto
para ti já nada minto
e me entrego com prazer

Bebedeira

Abençoado Casal Garcia
Que atordoas
Os olhos
A mente
O corpo
E os sentidos...


Abençoado Casal Garcia
Que enovelas todos os actos
E lhes permites desculpa


Abençoado Casal Garcia
Que fazes dos gritos gemidos
E me deixas com uma vontade louca
De me deixar levar
No sono ébrio
Duma só garrafa...

10 setembro 2010

Mulher

Mundo imenso
Imerso na neblina
Madrugada
Na curva lenta dos espaços
Arrancada às mãos
E à retina
Pintura
Absurda
Insone
Lampa sobre pele
Desnuda
No zurzir
Desse corpo de veludo triste
Onde as mãos se crispam
Em desafio
Fogueira eterna
Infinitamente maior
Que si mesma
Abismo-me à sua essência
Feita de silêncios
Profundos pensamentos
Palavras embaladas no colo
De todos os meninos
Silhueta esculpida
À melodia do vento
Ora forte e tempestivo
Ora calmo, um segredo
Tua paz
Tua alma
Encerra insondáveis medos
Que a noite aninha
Ao sorriso da aurora

 Foto de ABrito

24 agosto 2010

Shhh...

Vão-se calando os soluços
Abafando a minha dor
Que por ti acalento
Meu doce e sonhado Amor

Sono

Que rio é este
Cuja nascente desconheço
E pelo qual corre o meu sangue?
Que rio é este?
Que arrasta a minha vida toda?
É inútil dormir
O sonho corre e o rio me arrebata
Vou-me com ele...

23 agosto 2010

Fel

Rasga a alma
Desprende o coração
Que resta de nós
Então?
A carne
Devassada do amor
Que fizemos
Em segredo
Sob a pele
São pingos de sal
O que bebo
Sinto o fel

21 agosto 2010

Escrava

Desde que acordo
Até que me obrigo a deitar
Sou escrava das letras
Deste meu pensar

Que sinto com a cabeça
Que é isto, afinal?
Algo que me entristeça
Para viver o real

18 agosto 2010

A D. Juliana de Meneses - Duquesa de Caminha

Miranda - Sir John William Waterhouse















Ouço, distingo
Teu nome gritado
Nas ondas do mar
Desespero da perda inevitável
Que ainda me dói
Mas para sempre terei
Esta escarpa
E este segredo
Sussurrado vezes sem conta
Dentro de mim
A avistar o nosso mar

Ao António C.

Alvo papel que arde
Fogo da paixão demente
Não fujas magoado
Que só a ausência sente.

Não corras pela segurança
Porque a felicidade é uma busca
Nunca a encontrarás plena
Enquanto não te deres sem culpa.

Um Fio

Ando tensa
Um fio
Suspensa
Esticado
Enretesado
Estremeço.
Os teus olhos
Ao acaso
Em mim vieram poisar
Logo me desprendi
Leve
A flutuar
Vim no chão
Repousar.

17 agosto 2010

Pedra em bruto

A pedra em bruto
Por lapidar
Apenas interessa
E tem beleza
A quem conhece
Tu és pedra
Eu (te) conheço
Todo o teu potencial
Mas não a forma
De te polir, lapidar
Se calhar é melhor
Deixar andar
Seguir desinteressadamente
Até, finalmente,
Do teu fascínio
Me libertar...

Catorzinha

Foto de Rezie Ilhamsyah




















Tuas pernas magras
Experientes no abrir e fechar
A cada cliente que chega
Sem Te ver
Sem Te conhecer
Esse quarto
De tantos amantes de 15 minutos
Demorados
Guardados na penumbra
Sem noite nem dia
A vida corre
E é sangue na alcova
Já te esqueceste
Do que é o céu
Esta dor que me dói no peito
Não é outra senão tua
Marcas de sonhos por realizar
Fome do mundo que te foge
Sombras!
Minha criança poluída
Deixa-me amar-te na Vida
E nos meus braços
Deixar-te adormecer...

13 agosto 2010

Sem Título

Existem mil caminhos dentro de nós.
Todos quero percorrer
Contigo a meu lado
Juntos até morrer


Incendeias-me o corpo
Quando me olhas profundamente
Reescrevo-te para ler-te
Tão somente na minha mente.

Beijo

Tenho uma ferida no peito
Antes fosse no dedo
Mindinho
Da tua mão
Para poder beijá-lo
Com carinho
Aplicar suave sucção.

12 agosto 2010

Eu...

Linhas dum requinte escultural
Dobres d'agonias
Roxo macerado de martírios
Rezo, grito, choro
Ninguém ouve
Ninguém vê
Ninguém sabe quem sou
Onde estou
...

Depois do Amor

Delicadas melodias
Cujo instrumento
Se sabe não ser
Trinado de rara ave
Mas sim, tua pura e doce voz
Nesses vagos dias
Dolentes
Em que os corpos
Repousa
Sobre o mar de lençóis
Que são tua pele
Amarrotada e abandonada
Depois do amor.

11 agosto 2010

Escrevo para ti

Escrevo para ti
Que não me podes ouvir nem ler.

Tu, que estás para lá do inexorável horizonte
Onde até as flores tem outro nome, cheiro e cor.

Escrevo-te o Amor
Que em mim ficou quando partiste para não voltar.

Escrevo-te a saudade
Que me dói e corrói o peito aberto - Devoção.

Escrevo-te à chegada
Duma nova meta da Paixão.

Na esperança de que um dia
Saibas o que fui/ o que é para ti.

Um dia longínquo que não sei se vai chegar...

10 agosto 2010

A vida

A vida é feita de nadas
Palavras sagradas
Que temos de escolher
E escolher é
Dilacerar toda a alma.


Tu que falas
Com todos os poros
A transpirar
A pele das palavras
E espalhas magia
Como suor do firmamento,


Trituras a alma
A escolher
A escolher as palavras
Para preencheres a vida
Duma mão cheia de nadas.

Estou

Estou
Onde tu nem sabes
Onde jamais
Poderás entrar.
Do lado de lá da porta
Do lado de dentro do abismo
Labirinto
Secreto
Que sinto.
Estou
Na margem do texto
Sem qualquer contexto
Onde não poderás entrar...

O acasalamento

Apressa-se
Uma posição
Bebendo sentados
As lágrimas da
Paixão
Suspiram-se palavras
Nuas
Como vento que passa,
Um vôo do pensamento.
Trágica voz rouca
Mãos nas fendas
Do tempo
Ao longe a tremura
O impulso...
Dos sentidos,
O acasalamento.

09 agosto 2010

A luz do teu olhar

Caíste
Do céu uma estrela
Para iluminares
Estes olhos tristes
Que ainda perscrutam na noite
Luz igual
À do teu olhar

Há um olhar

Há um olhar
Onde me perco
Onde naufrago
Vezes sem fim
Para acordar os teus braços
Deixar-te
Passear em mim

Perdi-me

Tumulto do sangue na paixão
Miríades de imagens me possuem
Quando por breves instantes os nossos olhares se cruzam.
Sou teu. Ama-me!
Gritar bem alto o teu nome
Sussurrá-lo no ouvido com a língua quente
A arder na minha boca
Não sei se to disse
Perdi-me
Na tempestade do desejo
Quando nos tocámos enfim...

Nós

Entre mim e ti
Não há obrigação,
Apenas vontade.
Vivemos livres
Plenos e satisfeitos.
Cada um por si,
Cada um em si.
E sempre que queremos
Sabemos que
Estamos ali
Onde o tempo passa
E tudo permanece
Inalterado
À mercê da liberdade
De querer-te.

Abandono

Tantas vozes anoitecidas no teu regaço
Onde o corpo me embalas
Estreito no abraço.
Ouço o bater do coração
 - Um chão

E eis que tudo muda
Um momento, um sopro,
Uma aragem
Na vida do dia a dia
Um ponto de viragem.

Hoje já não te sinto
Apenas calo
E minto
A leveza que ficou em mim.
Do gemido atirado ao espaço
Resta a memória táctil
Do teu abraço
E a pele, fronteira do corpo,
À margem da vida,
Um vestido morto...

08 agosto 2010

Paixão

Lábios atentos murmuram
A palavra inacabada
Cópula
Depois dos dentes
Febril consumação
Monumento
De beijos violentos
A dor da paixão.

Bebi por dentro de ti
Suores da loucura
Na escuridão
Ouve a voz
Que vem de dentro
Do fundo do coração.

Homens no cacimbo

Foices aos ombros
Quais mortes anunciadas
Corpos esqueléticos
Sombrios
Que se movem
Lentamente
O peso da vida inteira
Os grilhões
As palavras não ditas,
Sentidas
Caminham à noite
Homens no cacimbo
...

06 agosto 2010

Noite

Foto de Fernando M. C. Batista


Aqui e ali - Mãos
Afluem translúcidas
Na pele que não conhecem
A soluçar sobre as mais belas.
Há um Inverno cansado em todas elas
E um azul celeste que encerra o suor do firmamento.
Mentem sonhos, prolongam grades - sinal contínuo dum falso muro
Que constroem enferrujado na noite que vai roendo tudo consigo...


Segredos

Guardas numa pequena caixinha
Todos os risos de mulher
Beijos, muitos, apaixonados
Não lembras os meus, sequer...


Tece teu peito
Sonhos delicados
Com mãos de ternura
Os olhos magoados


Esquecidos sobre uma flor
Que a noite suavemente oculta
Como as trevas do teu amor


Onde o teu coração mora
Numa caixinha guardaste
O que a alma em pranto chora


Pandora Box from Thomas Baker

04 agosto 2010

Vazia

Estou vazia
E tão cheia
Outra me sinto
Lado a lado comigo mesma
E não sou eu.


Estou vazia
Abandono-me
E ergo-me
Sou outra e me encontro
Ainda perdida
Mas armada
Que a batalha da vida continua.


E sou outra
Que me desconheço
Mas reconheço
Tudo o que fui
De que me esvaziei
Como se o mundo corresse
E eu permanecesse
Parada a observá-lo
Vazia por dentro
À espera de algo


Art from Luis Royo

Melodia

No silêncio da noite
Vibrando perturbador
Teus dedos
Vacilantes
Na viola do trovador


Tocam melodias sentidas
De pura voz
Um trovão
Gela- me as veias purpúreas
Faz do meu peito chão


Pela calada da noite
Quando o luar é dolente
Eu quero ouvir essa voz
Docemente...Docemente...

 Nota: Última quadra pertence a Florbela Espanca

Súplica

Deita tua linda cabeça em meu colo
Deita e adormece
Que o teu peito descanse
O que a memória não esquece


Deixa-me prender-te
Enlear-te em meus braços leves
Que a tua dor a mim doa
Amor, não me desprezes


Na minha adoração
De louca escrava tua
Quero tomar teus tormentos
Oferecer-te com mimo a lua

Promessa

Agora sim
Agora que somos livres
Avancemos!
Destemidos
Compartilharemos
Alegrias e tristezas.
Sem a obrigação dos dias
Seremos nós mesmos
E seremos sinceros
Não mais fingiremos
E toda a nossa vida será
Um idílio
Enquanto durar

Sinto a tua ausência

Sinto a tua ausência
Como tendo
Atrás de mim
A porta de casa
E toda a edificação
Fechada.
Bem encostada a ela
Olho em frente
E só vejo
Um abismo.
Onde antes se estendia
A calçada
Branca e negra
Alegre
Pululante de vida,
Encontra-se agora
O negrume dum horizonte
Que não descortino.
Sinto-me tombar
Encosto-me mais á porta
Mas desejo saltar
Nesse buraco imenso
Cujo fundo desconheço
Mas que me atrai
Magnéticamente
Ao seu centro.
Sei o que sentes
O que mentes
Sei dos teus medos
Angústias
Saudades
Sei algumas verdades:
Da impossibilidade
De gritar Amor
Mas quero-te
Até ao fim dos meus dias

Aconteceu

Aconteceu no hiato de ser
Surgiu do hiato de ter
E querer ocupar
O lugar que não me pertence.


Aconteceu por te querer
Para te ter
Para poder ser.


Aconteceu e foi renovador.
Morreu uma parte de mim
Nasceu outra que não sei qual...

Era Dita

Era dita em voz alta
Para a todos enganar
Escondendo entre as letras
O desejo de te amar

Era dita com fervor
Qual bendita oração
Não eram mais que palavras
Estranguladas no coração

Não quero que me ames

Não,
Não quero que me ames
Não quero contagiar-me
Do teu desconhecimento de amor.
Não quero amar-te
Nem beijar-te
Só possuir-te
E inventar-te
(no meu sangue)
Só quero esventrar-te
E tornar-te o amor
Que eu sou
Que eu sonho

O Poema

O poema
É tempo...

...
...
É avanço...é recuo.
O poema é vida,
É sangue,
É amor.

...
...
O poema é,
O poema quer ser,
O poema destemido;
Ousa avançar!

O poema esconde-se,
Retrai-se.

...
...
O poema
É tempo
...
Tempo que voltará jamais

29 julho 2010

Tu

Empreendi uma viagem pelo teu corpo
Palmo a palmo senti tua pele
Cada poro que respira
Uma paisagem de lágrimas
Que nunca abadonei.
Os anos tombaram atrás do tempo.
Para reencontrar o itinerário
Apliquei o meu discurso mais culto, inteligente e sedutor.
Mas tu nunca foste meu
E habitas-me
Como as velas
Dum navio antigo, naufragado.

John William Waterhouse


É assim que tudo está bem

É assim que tudo está bem
No mesmo ponto de desassossego
De silêncio
De gritos amordaçados

É assim que tudo está bem
Na distância
No abafo
Tu na tua
Eu na minha

É assim que foges
Que negas,
Me negas
Foi assim que planeaste a dor
E me entregas novamente
À loucura.

Foto de Jorge Beraldo






A arte de amar noutro dia

Foto de Alexander Kharlamov





















Deixa para amanhã
Que amanhã vai ser mais fácil.
Deixa para amanhã
Que hoje tenho medo.

Protelas
Protelas a vida
O amor
O grito
Protelas até o infinito
Aconchegas a dor
Protelas-me a mim.

Eu, que vivo na cabeça duma agulha
Ponderando forças
Dos instantes sofridos
Na intensidade
De cada momento.
Eu, que a ti quero
E sofro
Cada minuto da tua ausência
(é ciência).

Protelas
E sofro
Simplesmente por não ser capaz
De te amar noutro dia.

Desvario

Adormeci
Tu na minha cabeça
Em desvario.
Lembro todas tuas caricias
Malicias
Sinto toda a dor
Da partida antecipada
Vida virada
Avesso encontrado.
Atiro-te meus olhos vazios
Já sem lágrimas
São só dor
Mas tu já não estás
Encontraste um novo amor.

Elisa Hinz




Desejo

Vagarosos silêncios

Onde a vida acontece.

Marcam-me o corpo

As garras do teu olhar

Rasgam-me a pele

Sulcam desejos

Misturam suores

Combustão

Explosão.



As palavras não ditas

São fantasmas

Que teimam em não nos abandonar

Nos caminhos inauditos

Dentro de nós.

Mil caminhos que quero percorrer

Tacteando

O corpo que flameja

Ao olhar profundo


Hart Worx

Saiste de mim

Saiste de mim

Novamente saiste de mim

Arrancado a ferros

Deixaste o peito em ferida

Chagas do meu pecado

Original.

Saiste de mim

Ainda com olhos indecisos

Um esgar na madrugada

De orvalhados desejos.

E fico aqui

Desamparada, desorientada

Olhando as mãos ensanguentadas

De te tirar de mim.

Uma pergunta a pairar no ar:

Porque tem de ser assim?
 
 
Arte digital de José de Almeida

Não Partas

Time de José Ferreira














Convidei-te a olhar-me
Na esperança de que me visses
Não nos cabelos amarrotados
Vermelhos de fogo
Ondulados dos teus lençóis,
Mas a Mim, Inteira, Mulher.
Convidei-te e recusaste
Disseste que isso não era importante.
Não me deixaste entrar
Nesse labirinto
Que por vezes é luz,
Outras negrume sem fim
Angulos rectos
Sem portas nem paredes
Onde te perdes.
Passaram os anos e os dias
Disseste que sofrias
As mãos estendidas,
Vazias
Tão leves e banais.
Pediste-me que levasse o medo
E eu te disse um segredo:
Não partas nunca mais!

28 julho 2010

Fantasmas

Foto de Angélica
















Entro nesse divagar e perco-me
É uma viagem que faço
Cheia de dores, fantasmas e tormentos.
Não me recordo do amor,
Tão só da obcessão
Em manter a escolha,
O compromisso.
Tempos idos
Tantas vezes vividos.
Repetidos na pessoa
Outra dum amigo.
Desvarios.
Revolta.
Shhh!
Sossega, calma!
Já passou!
Segredas-me tu
E beijas-me suavemente.


27 julho 2010

Tu já não moras aqui

Escrevi-te a sangue dos meus dedos
Sobre pedra em penhasco
Para que ninguem pudesse apagar-te
Mas veio o mar e te esbateu
Tantas vezes veio
Que te esqueceu
E tu já não moras aqui.

Quiseste regressar do sonho
Em que perdido este tempo andaste
Sorri,
Não te reconheci
Não és tu, por quem morri.
Que fazes aqui?
É tarde
Regressa que o caminho é longo
E tu já não moras aqui.
Foto de Marquicio Pagola

Crónicas de Pernas com Pernas

Body Heart - Tito Elbling
















O vento, como um dedo
Insinua-se subtilmente coxas acima
Estou bera de molhada
No sol tórrido
Pespontado de inconstantes
Lufadas de ar quente.
Sujeito-me aos teus dedos
Como hábeis artesãos
Que tecem os lençóis dos outros
E dormem
Numa esteira no chão.

Tenho sede
E estou bera de molhada
Sou incapaz de te resistir
Ou negar teu membro erecto
Mesmo sabendo que é
Uma f... nada mais

Monólogo

Pego num pedaço de alma teu. Acarinho-o, aconchego-o, afago-o. Transporto-o sempre junto ao peito e seguro-o gentilmente com as mãos em concha.
De tanto o segurar, canso-me, começo a manipular para entreter o tempo. E sei que magoa, que começa a sangrar.Atiro-o sobre qualquer peça de mobiliário e esqueço-o, já estava a sujar e eu gosto de me apresentar impecável.
Choras? Porquê? Nunca te disse que te amava, apenas tinha carinho por ti, mas não acreditaste e agora queres cobrar-me o que nunca te disse ter para te dar.
Queres a tua alma de volta? Olha...está ali, creio. Está um pouco manchada e seca, mas vais conseguir colocá-la viçosa novamente, basta que não penses mais em mim desse modo.
... ...
Olha, vou desaparecer durante uns tempos...Vai ser bom para ti, para ambos.
Sabes que procuro alguem para mim...

 
Christophe Vermare


















A luta

Estava aqui
Contigo
Sem mim
Todo tu
Meu pensamento
Juro pelo teu Deus
E pelo meu vento
Que não consigo
Discernir
O que tu?
O que eu?
Ambos
Em mim
Em constante luta
Sem sofrimento


Foto de Pedro Nossol




O Mundo nas tuas Mãos

Cabe na palma da tua mão
O meu mundo inteiro
Se me não sustentas
Toda ruo, me desconjunto.
Cabe na palma da tua mão
O meu coração pobre
Gasto e imenso.
Cabe a minha alma
Todo o meu Ser.
Morro na distância
De todas as noites a teu lado.
E volto,
Volto sempre.
Enrosco-me para não sentir
O frio da morte
Do medo
De que as tuas mãos se abram
E me deixem escapar...

Foto retirada do blog agulhas no palheiro

Strip Tease

Foto de Nacho Kamenov




















Com música
E luz suave
(filtrada)
Desabotoa-te lentamente
Vai movendo teu corpo esbelto
Ao som da melodia
Que me arrepia
No estalido eufórico
Das gotas
Do meu gin.
Evoluis
Cada vez mais despida
Jogo de luz na tua nudez
Vitreo reflexo de lua
Minha insensatez.
Música e corpo
Me embalam
Será antes
Embriaguez

A Paisagem mais bela que vi

A paisagem mais bela que já vi
É a que imagino do teu corpo
Cada momento me aflora uma paisagem
Escondida dentro de mim
Cada gesto imaginado
Cada suspiro retido, gemido ou gritado
A paisagem mais bela que vi
Tua imagem reflectida em mim.


Espelho de Junior Aragão

Recordação

Sei que não estás
Teu cheiro apenas
Suave já na minha pele.
Sei do teu toque
Que ainda me marca o corpo
E à lembrança
Me faz delirar.
Sou eu?
És tu?
Esta pele morena e macia
Clama pelas tuas mãos hábeis
Conhecedoras
Do meu sentir.
Suspiro
Espero
Desejo
Quero


Memor!es de Ana Coelho

O dia seguinte

Escuto
O silencio da tua voz.
Cada acorde
Tentando perceber
As batidas do coração
E as palavras
Nos interstícios.
Desfaleces.
Não tens nada
Para me dar.
Hoje é
O dia seguinte


Bárbara de Bernardo Coelho

Momento de Glória

É feitiço
Esse teu olhar
Mestiço
Que cativa
E me joga fora
Embora
De tão despedaçada
Continue na calçada
A esperar por isso



Ser o que sou de Óscar Silva

Saudade

Tua voz rouca sussurrada
Ressoando na minha mente
Loucura de beijos
Ardente
Suave e delicada melancolia
Eco da felicidade
Que fui
E que me ilumina o rosto


Naked Orange de Angela Berlinde

A minha terra

Gente que passa
Alienado o olhar
Tenho em mim o tempo
Do alegre cumprimento,
Do comum saudar.
Ó terra de todos esquecida
Em sonhos recordada, vivida
Como quero a ti voltar
Inda que em cinzas
O meu olhar toldado, vazio
Mas a ti, por ti e para ti voltar.

O MAR

O mar
Meu ombro
Amigo
Onde deposito
Minhas mágoas
Meus sonhos
Minhas vaidades
Na busca
Das tuas verdades
Picado, revolto
Sempre uma alma brava
Face do meu corpo
Desatinado e em brasa
O verso queima
O alvo papel
Toma balanço
Em direcção ao céu
Não resiste
Não resisto
A solidão
Por companhia



Tofinho - Inhambane - Moçambique